Nove de Novembro de 1993. Uma dinastia começava, a dinastia do Wu-Tang. Os nove jovens rappers não sabiam que mudariam a história de um estilo, e resgatariam o Rap de NYC de um período de apagão no cenário. A costa Oeste dominava tudo com Ice Cube, Snoop Dogg, Eazy E, Dr. Dre, o principal responsável disso foi a popularização do Gangsta Rap. O Rap agressivo de NYC passava por um processo de mudança, com a maior base nas técnicas de Rakim e afins. Os já rappers RZA e GZA – basicamente líderes do grupo -, fundaram o grupo em 92. Os dois rappers já tinham lançado álbuns, GZA em 1991, e RZA em 1992 e juntos a Ol’ Dirty Bastard, tinham um grupo chamado Force of the Imperial Master. Eles juntaram mais alguns rappers de NYC, e assim em 1992 lançaram o primeiro single do grupo, a música Protect Ya Neck. Todos os membros do grupo soltam versos extremamente violentos sobre a produção de RZA. E assim o Wu-Tang da o primeiro passo para o Enter the Wu-Tang (36 Chambers).
Enter the Wu-Tang (36 Chambers) tem um título bastante complexo. Mas fontes dizem, que é baseada na “Supreme Mathematic” que era uma filosofia dos Five Percenters. A filosofia do grupo era uma multiplicação de 9, no caso os 9 membros do grupo com as 4 câmaras (chambers) do coração – duas arículas e dois ventrículos -, e essa multiplicação dava o resultado de 36. Mas, como sabemos, o grupo tira muitas das suas filosofias de filmes de Kung Fu. Em 1978, foi lançado o filme The 36th Chamber of Shaolin, e dizem que o grupo se baseou nesse filme para criar o nome do disco. Eles se consideravam os mestres líricos das 36 câmaras, e estavam ‘a frente’ dos outros rappers por saberem destas filosofias. Mas essas teorias não garantem ainda a origem do nome do grupo. O disco, é um dos mais influentes da história da indústria do Hip Hop, é o ápice do hardcore hip hop, trazendo as tramas das ruas nuas e cruas para as letras.
Bring Da Ruckus abre o disco de forma pesada. Com diálogos de filmes como Ten Tigers from Kwangtung e Shaolin & Wu Tang; Ghostface, Raekwon, Inspectah Deck e GZA cospem seus versos de forma incrível. Com uma batida minimalista e obscura feita por RZA, a faixa consegue ser notória até hoje. O refrão também é feito por RZA. E não da para destacar um rapper nela.
Shame On A Nigga chega com o audio de uma cena de luta de algum filme de kung fu. Com samples de Different Strokes, de Syl Johnson e Black and Tan Fantasy de Thelonious Monk a faixa tem uma batida menos sombria que a primeira, mas continua minimalista. Raekwon, Ol’ Dirty Bastard e Method Man falam sobre os manos que fazem sucesso, vangloriando o estilo do Wu-Tang, falando que tais manos que ‘comandam a indústria’ não são nada baseado neles. Clássica.
Clan in da Front é toda performada por GZA. Com uma intro de RZA. É a segunda faixa que um membro do Wu-Tang performa sozinho, a outra é Method Man, que é performada pelo Meth, mas com intro de GZA e o outro de RZA e Ghostface. Clan in da Front tem samples de Synthetic Substitution de Melvn Bliss e Honey Bee, da banda New Birth. A faixa de Melvin Bliss também é usada como sample em Bring Da Ruckus. E Honey Bee, entra na temática em que RZA fala na intro, chamando o grupo de ‘abelhas assassinas’. Batida outra vez minimalista, mas não tanto sombria. As técnicas de GZA se sobressaem na faixa.
Wu-Tang: 7th Chamber tem todos os membros rimando. A faixa inclusive fala do nome do grupo em uma espécie de acrónimo, ‘We Usually Take All Niggaz Garments’. Batida sombria e com sample de Spinning Wheel do músico Lonnie Smith. Os membros do grupo espancam a beat com a violência de seus versos. Está faixa não é tão famosa, mas assim como todo o disco é de extrema qualidade.
Can It Be All So Simple traz Raekwon e Ghostface Killah cuidando dos versos e do refrão e uma intro com RZA. Batida leve, com samples de The Way We Were do grupo Gladys Knight & the Pips e I Got The de Labi Siffre. A música é um tanto melódica, e um remix dela é encontrado no disco de Rae, o Only Built 4 Cuban Linx… lançado em 1995.
Da Mystery of Chessboxin é co-produzida por ODB, e tem versos de U-God, Inspectah Deck, Rae, ODB, e Masta Killa; com um refrão feito por Method Man. Mais diálogos do filme Shaolin & Wu Tang são usados, mostrando que o grupo realmente tira suas filosofias desse estilo de filme, e que esse filme especialmente, inspirou e muito o grupo. Diálogos de Five Deadly Venoms também são usados na faixa.
Ah, a icônica Wu-Tang Clan Ain’t Nuthing ta Fuck Wit. Faixa co-produzida por Method Man. Samples de Check The Rhime do grupo A Tribe Called Quest são usados. Diálogos do filme Shaolin Executioner também são usados nessa produção um tanto menos sombria RZA cuida da produção, refrão, primeiro verso e do outro. As frases ditas por ele no refrão, eternizaram o grupo:
“And if you want beef, then bring the ruckus
Wu-Tang Clan ain’t nuttin ta fuck with
Straight from the motherfucking slums that’s busted
Wu-Tang Clan ain’t nuttin ta fuck with”
Os outros versos são de Inspectah Deck e Method Man. Samples de outras músicas também são usados, como a Impeach the President dos The Honey Drippers, Hihache da Lafayette Afro Rock Band e o tema da série de TV ‘Underdog’, que foi composto por W. Watts Biggers.
C.R.E.A.M. Um clássico do Rap. Quem nunca ouviu falar a frase ‘Cash Rules Everything Around Me’? o acrónimo é perfeito, virou uma espécie de gíria no Rap. Fala sobre o controle do dinheiro sobre tudo no mundo. A batida é sombria e pesada. Samples usados: As Long as I’ve Got You da banda The Charmels. Raekwon e Inspectah Deck cospem os versos e o refrão ficou por conta de Method Man.
Chegamos na faixa METHOD Man. O som que fala sobre o membro Method Man, é uma espécie de promoção a Meth. Ele sempre foi o membro mais ‘sociável’ do grupo, podemos ver isso durante a história do Wu. Ele sempre participava de filmes e coisas do tipo, era como o membro mainstream do disco. Que promovia. A música é bem violenta, a intro é uma conversa de Method Man e Raekwon falando sobre jeitos de torturar alguém. Os versos são de Meth, assim como o refrão. Clássica.
Bem, como já falamos de Protect Ya Neck lá no começo, vamos para Tearz. A faixa não tanto conhecida traz versos de RZA e Ghostfce Killah. Com uma batida pesadíssima, e samples de After Laughter (Comes Tears) de Wendy Rene, a faixa trás o conceito do samples. Mais ou menos algo como ‘pós risos, temos as lágrimas’. É uma faixa um tanto subestimada, já que o álbum é lotado de singles clássicos e faixas icônicas.
Wu-Tang: 7th Chamber—Part II é a continuação da quarta faixa. Na verdade é um remix, contém os mesmos versos, só que um sample de Clan in da Front. A batida desta faixa é mais trabalhada, e não é tão pesada como a original. Mas é mesmo assim um grande som
O disco ainda tem um remix de Method Man. Dessa vez com samples de Disco Lady de Johnnie Taylor, I’m Just a Bill de Jack Sheldon e um folk chamado Going to Kentucky. É bastante interessante, traz um novo verso de Meth, um ótimo verso aliás. É um ótimo som, e a batida está bem mais pesada que a da original.
A produção de Enter the Wu-Tang (36 Chambers) é algo que muitos dos produtores que começaram a fazer carreira no final dos anos 90 em NYC buscam se inspirar. Com muitos samples de soul, diálogos de filmes e as técnicas de RZA, eu particularmente considero a produção do álbum perfeita e genial. Acho o jeito que RZA ‘da’ as batidas, também genial. O produtor solta a batida enquanto alguns membros ‘batalham’ por ela soltando freestyles, a faixa Meth Vs Chef, do disco Tical de Method Man é uma dessas batalhas. Mas voltando ao disco do grupo, o lírico também é perfeito. Nenhum MC peca nas rimas, e o destaque vai para quem rima mais mesmo. Enter the Wu-Tang (36 Chambers) abriu portas para o renascimento de NYC, e é um dos melhores de todos os tempos. Resumindo, é um clássico que temos aqui hoje, outro disco que é essencial para um Rap junkie. Espero que tenham gostado, e fiquem ligados por que o Raplogia não para.
Fonte: RAPLOGIA
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